quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Filosofias feministas


Imagem: Marina Braga
Na última reunião da Frente Feminista Casperiana Lisandra tivemos um debate que foi gradualmente esquentando e se prolongou por 40 minutos além do tempo comum, pegando fogo.

As mediadoras da vez foram Giovanna Cartapatti e Marina Braga, que decidiram começar com o texto retirado do blog “Escreva, Lola, escreva”, de Lola Aronovich, cujo conteúdo relata a história de uma moça que foi estuprada pelo pai, porém decide perdoá-lo. Ainda nesse texto, Lola Aronovich dá sua opinião sobre o feminismo que  deve acolher vários tipos de ideias, isso é, dentro do mesmo feminismo deve haver espaço para outras filosofias e que, ainda, a exclusão por parte de quem não concorda com o acolhimento e o perdão (como é o caso citado no texto) não é uma regra do feminismo, por mais que seja praticado.

Seguindo essa linha de raciocínio, as mediadoras lançaram a questão do “feminismo que exclui”. A ideia, segundo Giovanna e Marina, surgiu do projeto/coletivo Passa Palavra, que explicita essa tendência político-ideológica, cujo o enfrentamento do machismo é feito por coletivos e grupos exclusivamente compostos por mulheres sob o pretexto de que em coletivos mistos as mulheres não encontrariam solidariedade dos companheiros para o enfrentamento das questões, por exemplo. A auto-formação seria necessária, portanto, para que a exclusividade da mulher no espaço criado, servir de conforto para ela construir uma cultura do direito à autodefesa física e psicológica.

Mas, então, um movimento de minorias deve acatar x opressxr ou, justamente, por se tratar da parte oprimida da sociedade, um coletivo deve se isolar dx opressxr, afim de esperar o mínimo de empatia entendendo que, apoiar espaços exclusivos, é apoiar o fortalecimento político dx oprimidx!?

Esse foi o ponto mais polêmico do debate, que rendeu muitas falas e deixou as mediadoras quase sem voz. Muitos exemplos surgiram como a questão do feminismo exclusivamente negro, que rebate a falta de consideração para com a mulher negra (e pobre), que ainda permanece nos velhos lugares marcados de um passado escravocrata: o do trabalho doméstico e o da objetificação sexual.

Passando para um outro ponto da discussão, mas que pode tanger a ideologia do feminismo exclusivo para mulheres, as mediadoras jogaram na roda o conceito de misandria.

A misandra diz respeito ao ódio, ao desprezo ao sexo masculino, uma ideia que vai além da inversão do que a mulher vive na sociedade machista. Há muitxs, que não consideram uma pessoa misândrica como feminista. Já que o feminismo parte do princípio de igualdade de gênero, esteriotipar o homem como sendo inútil, incapaz ou como alguém que merece ser castrado, de fato, não deve ser considerada uma atitude feminista.

As mediadoras da reunião: Giovanna Cartapatti e Marina Braga
(Imagem: Tatiana Luz)
O exemplo resgatado por Giovanna e Marina foi o de Valerie Solanas, que, em 1968, atirou contra o famoso artista Andy Warhol (que felizmente sobreviveu ao ataque).  Ela escreveu um manifesto chamado SCUM (referência à expressão em inglês, que significa “escória”), cujas iniciais talvez (isso não está em nenhum lugar do livro) signifiquem Society For Cutting Up Men (Sociedade para Mutilar os Homens).  Ou seja, um apelo ao generocídio, à eliminação de metade da humanidade.

Um outro tópico abordado na reunião diz respeito ao Femen e sua falta de profundidade. Partindo do texto das Blogueiras Feministas, “Carta ao Femen BR”, as meninas questionaram a o processo de seleção que existe para alguém que queira fazer parte do coletivo.  Reunindo moças brancas, loiras e magras, o Femen consegue saciar a sede da mídia utilizando como atíficio a nudez dessas meninas que se encaixam no padrão de beleza imposto pela sociedade. Contudo, qual é a imagem que esse grupo deixa para os “leigos do feminismo”? Soma-se ao fato de que a imprensa, de modo geral, não trata do tema com devido cuidado (na grande maioria das vezes, sob a ótica de “manifesto que atrapalhou o trânsito”), então temos um resultado dramático: um movimento que não mostra suas verdadeiras facetas, mas que ganha visibilidade e ainda é exposto de maneira apática.

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