segunda-feira, 13 de maio de 2013

IV Encontro 05.05.2013 - A cultura do estupro

A reunião desta quinta-feira da Frente Feminista Casperiana contou com a figura dx mediadorx como novidade. A partir de agora teremos sempre alguém conduzindo o assunto debatido, para ajudar a controlar o (pouco) tempo que temos, de modo com que todxs possam expressar opiniões.

Debatemos sobre a cultura do estupro com o enfoque em algumas imagens levadas pela primeira mediadora, como as da campanha canadense "Don't Be That Guy" ('Não seja aquele cara'). O denominado 'marketing comportamental' surgiu a partir do elevado número de agressões sexuais 'facilitadas' pelo consumo de álcool, que crescia a cada dia em uma pequena cidade do Canadá. A mensagem visual foi mandada para homens entre os 18 e 25 anos, enfatizando o fato de que eles devem ter responsabilidade sobre os próprios atos, já que, segundo o site provedor da campanha, um estudo realizado entre homens dessa mesma faixa etária, revela que 48% deles não considera como estupro, se 'a mulher está bêbada demais para saber o que está acontecendo'. 
Isto é, a mulher é culpada pelo estupro por ''passar do limite'' ao ingerir álcool. Temos aqui, então, uma possível definição do que é essa cultura presente na sociedade, cuja culpa é sempre da vítima por criar a situação favorável a isso. O machismo criou uma lei social, determinando  o 'feminino' e o 'masculino'. O feminino deve ser delicado, frágil e dependente. Já o masculino é ágil, forte, superior. Os conselhos para 'não sair sozinha depois que escurece' e 'prestar atenção no que veste' são sempre dados ao feminino, pois este deve ser preservado, mesmo sendo violável. Daí, vem as imposições instaladas no sujeito machista do tipo "não = sim" ou do ''pediu para ser estuprada".
O machismo não considera a vontade própria da mulher. Querer fazer sexo, não é ser vadia e, como a propaganda canadense enfatiza: ''sexo sem consentimento é agressão sexual''.  Nossa mediadora, mencionou o caso de Lola Benvenutti, a garota de programa formada em Letras pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), que diz que faz, porque gosta. Comentários dos mais diversos tipos surgiram, a partir da notícia. 
''Deve se dar mais o respeito que muita menina 'de família' por ai... Pelo menos essa assume o que faz!! Foda são as piranhas enrustidas casadas e comprometidas...''

Primeiro: dizer que alguém deve ''se dar ao respeito'' é insinuar que o mesmo não tem respeito nenhum e, por isso, deve alcançar essa posição. Além disso, estar comprometida não é sinônimo de submissão e acorrentamento, por isso, adjetivos pejorativos como 'piranha' e 'vadia' não são cabíveis em toda e qualquer situação. Uma mulher que quer transar (e ainda ganha dinheiro com isso por opção) não pode ser julgada, afinal, o mesmo não acontece com os homens. Um homem querer sexo é comum, no máximo, é um 'safado'. 
 Seguindo essa linha, existe a questão da 'Friendzone'
 ('zona da amizade'), que é o grande temor dos homens ao serem considerados por uma garota como 'apenas amigos'. Contudo homens e mulheres não podem ser amigos, pois o cara vai sempre buscar o sexo com a amiga (fato que está pautado em outro mito de que a mulher não gosta de sexo e, se gostasse, seria a ''piranha'', citada mais acima). Homens que fazem gentilezas esperando favores sexuais, não são bonzinhos. Um cara verdadeiramente legal é assim naturalmente com toda e qualquer pessoa, sem esperar nada em troca.

Infelizmente, a cultura do estupro é tão abrangente, que há certa dificuldade para caracterizá-la pontualmente (e, inclusive, debatê-la). Mas, que fique como lembrete: estupro não acontece só em becos escuros entre um psicopata e uma mulher (acrescente à cena bastante violência física). Forçar sexo já é uma forma de estupro. Isso não é paranóia, é luta por liberdade. É luta contra o privilégio masculino. É luta contra o medo.