Créditos da imagem: Zanone Fraissat/Folhapress / Arte: Camila Araújo |
Às vésperas da IV Marcha das Vadias, em São Paulo, a Frente Feminista
Casperiana Lisandra promoveu uma roda de conversa sobre o evento. Com a
presença das convidadas Gabriela Freller e Isadora Szklo (RUA), Carolina Borghi
Ucha (JUNTAS) e Beatriz Beraldo Batista, que defendeu a Marcha em sua tese de
mestrado na ESPM, a reunião descontruiu e, em seguida, reconstruiu o
significado desse acontecimento do próximo sábado (24 de Maio).
Beatriz Beraldo, pesquisadora da Marcha fez a primeira fala / Foto: Marina Braga |
“A mulher na sociedade é esquartejada”, iniciou Beatriz. Com o seu
trabalho “POR SAIAS E CAUSAS JUSTAS: feminismo, comunicação e consumo na
Marcha das Vadias”, a estudante, e também ativista, criticou a relação da
publicidade com a mulher e com a Marcha. À medida que essa mídia não nos trata
como sujeito, o produto passa a ser o nosso porta-voz e as joias, sapatos e
outros artefatos acabam por nos representar nas propagandas. Dessa forma, falar
sobre a mulher referindo-se apenas às partes do seu corpo passa a ser algo
comum na sociedade. Não é à toa, portanto, que os jornais e a internet divulgam
algumas manifestações feministas com enfoque apenas nas partes do corpo
despidas durante o evento, como o topless. Assim, deixam de lado toda a
ideologia e os debates envolvidos no movimento.
Carol Ucha, do coletivo Juntas, deu sequência no debate / Foto: Marina Braga |
Em seguida, Carolina levantou a questão da importância da Marcha: é um
dos primeiros contatos das pessoas com o feminismo mais a fundo,
disseminando-o. “Vá lá e converse com as pessoas”, recomenda. Segundo ela, esse
ano, após as jornadas de Junho de 2013, as constantes greves e manifestações
contra a Copa, além das polêmicas de assédios no metrô, a pesquisa incorreta
divulgada pela IPEA em relação ao estupro e o assédio sofrido pela bandeirinha
recentemente em uma partida de futebol, indicam que a Marcha terá uma boa
repercussão.
Gabriela Freller, representando o coletivo RUA, fez a última fala, que abriu o debate para o restante das pessoas na roda / Foto: Marina Braga |
Apesar das grandes expectativas, Gabriela mostrou alguns problemas que o
evento enfrenta: o enfoque na emancipação individual, o uso da nudez (que tem
um papel importante, mas só aparece na mídia pelo seu conteúdo sexual) e a
inibição causada a mulheres que não se reconhecem com o termo “Vadia”, que foi
tomado como forma de protesto após a fala de um policial canadense, que se
pronunciou sobre uma onda de estupros que vinham acontecendo no Canadá, dando,
então, origem à Marcha em 2011 no mesmo país.
O debate continuou com a questão da mulher negra no movimento feminista.
Devido ao fato de muitas mulheres negras já se declararem contra a Marcha Das
Vadias, Isadora explicou que muito disso se deve à época da colonização. Como
as brancas eram “materiais para o casamento” e, portanto, intocáveis, os homens
precisavam provar sua virilidade mantendo relações sexuais com suas amantes, no
caso, as escravas negras. Assim, foi atribuído a elas um estigma sexualizado de
maneira pejorativa até hoje.
O tema desse ano da Marcha das Vadias é "Quem cala não consente" colocando em pauta a questão da cultura do estupro / Foto: Marina Braga |
Além disso, foi levantada a questão da complexidade social em que essas
mulheres estão inseridas. A negra, principalmente a de periferia, se vê diante
de um dilema: sobreviver ao lado do seu opressor ou lutar pelos seus direitos
como mulher juntamente à sua patroa racista. Grande parte possui demandas mais
urgentes que remetem à sua própria sobrevivência. Dessa forma, o machismo
existente em suas vidas acaba não sendo detectado.