quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Lisandra na Semana de Integra da Cásper


A primeira noite da Semana de Integra (12/02) foi organizada pela Frente Feminista   
Da esquerda para a direita: Camila, Tamiris, Giulia e Natália guiando o Quiz (Imagem: Marina Braga)

Casperiana Lisandra e dividida em dois momentos: o ‘Quiz’ e a palestra sobre mercado de trabalho, ambos realizados no saguão do 5º andar da faculdade.

Durante o ‘Quiz’, parte do Grupo de Ação da FFCL lançou provocações a veteranxs e calourxs que estavam presentes. Um debate foi gerado logo de cara com o trote de 2014 como tema. Toda a polêmica dos abusos cometidos por parte dxs veteranxs foi discutida entre quem estava presente. Além disso, as meninas da Lisandra jogaram na roda questões como o “Revenge Porn” (fotos íntimas que acabam sendo divulgadas na internet), a objetificação do corpo da mulher e as famosas cantadas de rua.

Satisfeito com o resultado do ‘Quiz’, o público permaneceu no saguão para assistir a palestra em sequencia, que teve como carro-chefe a pergunta “existe diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho?”. A integrante do CAVH Beatriz Cano (3º ano de Jornalismo) mediou as falas e um novo debate foi aberto ao fim delas.

Três convidadas fizeram parte da mesa: a jornalista e colaboradora do Blogueiras Feministas, Luana Franca; a advogada e economista integrante do Jovens Feministas de São Paulo e consultora do , Lia Lopes; e a aluna do 2º ano de Jornalismo pela Cásper e integrante da FFCL, Marina Braga.

Por ser muito ampla, a questão do mercado de trabalho não pode ser englobada apenas pelo feminismo. É um problema geral. A maioria das pessoas não trabalha por gosto ou por realização, mas por necessidade de sustento, como o capitalismo exige. Mas é ainda mais difícil para quem excerce a dupla ou tripla-jornada, ou seja, as mulheres. E é comum ouvir dizer que “o feminismo é culpado por essa situação em que elas se encontram por ter feito com que se emancipassem”. Contudo,  a emancipação da mulher é resultado da indignação com a história em que metade da humanidade se viu excluída nas diferentes sociedades, no decorrer dos tempos.

Como descreveu Virginia Woolf em “Profissões para mulheres e outros artigosfeministas”, a mulher deve ser o “Anjo do Lar”: meiga, delicada, educada, saber agradar e não dar sua verdadeira opinião  (afinal, a mulher não a possui). É como se houvesse um “destino biológico”, que se configura como um destino imutável para homens e mulheres, definindo o padrão nas relações de gênero, onde o homem é o chefe da família, assume o controle da política e trabalha, enquanto a mulher fica responsável pelos serviços domésticos, por cuidar dos filhos e do marido e mantém-se como símbolo da procriação.


Dessa forma, as reivindicações trabalhistas feministas, a luta por direitos iguais entre mulheres e homens no extra-lar, colocou em xeque as opressões machistas da sociedade em relação para com as mulheres, principalmente porque estas reclamaram o campo social considerado ativo, modificando, portanto, costumes, ideais e ideologias, o que a levou a conhecer a si mesma, suas possibilidades e potencialidades, abrindo mão da submissão e do medo, e dando os primeiros passos para a conquista do empoderamento.

Hoje o ambiente de trabalho de muitas empresas é machista, ainda com muitas piadinhas e assédio sexual. A mulher está mais sujeita ao assédio em todas as carreiras. O quadro piora devido à cultura brasileira da objetificação do corpo feminino e à ideia de que as mulheres dizem ‘não’ querendo dizer ‘sim’.
Lia Lopes falando sobre o "destino biológico" da mulher
(Imagem: Marina Braga)


Dados da Organização Internacional do Trabalho indicam que 52% das mulheres economicamente ativas já foram assediadas sexualmente. É o segundo maior problema depois dos baixos salários e, muitas vezes, faz com que a mulher se demita.



Pois é, o salário é desigual, e mulheres ganham cerca de 30% menos que os homens na mesma função, apesar de muitas vezes ter maior escolaridade.

Se ensinada desde pequena a ser passiva e insegura, isso vai se refletir no futuro da mulher, já que a competição e a ambição nem sequer são fomentadas nas meninas. A educação familiar que recebem e os jogos infantis enfatizam a cooperação e a conciliação. O êxito profissional não faz parte da identidade feminina: uma mulher 'realizada' é aquela que se casa e tem filhos, não a que ascende a uma posição de liderança em sua profissão. Além disso, uma mulher sumamente bem-sucedida no trabalho tende a ser percebida como menos feminina: as qualidades exigidas para alcançar sucesso em qualquer área - capacidade, ambição, assertividade, iniciativa e liderança - costumam ser consideradas masculinas.

Ainda seguindo a lógica capitalista de “para sobreviver na nossa sociedade é preciso ter dinheiro e para ter dinheiro é preciso trabalhar”, uma mulher que tenha filhxs se vê em uma situação muito mais complicada: ou deixar as crianças com alguém ou alguém terá que trabalhar por ela.


Mas, então, como faz uma empregada doméstica, por exemplo? Ela não tem essa escolha de poder ou não trabalhar. Não é uma opção pras mulheres pobres ficar em casa cuidando dos filhos. Nunca foi. E é essa, inclusive, uma grande crítica à boa parte do feminismo: só fala às mulheres de classe média. É um movimento burguês, que não contempla todas as mulheres, porque, lógico, a luta de uma mulher negra que mora na favela não é a mesma de uma branca de classe média.

Ainda há vertentes do feminismo que  reforçam o estereótipo de que as mulheres são as únicas responsáveis pelos cuidados com as crianças. Ou seja, a mulher não se limita a maternidade, mas todas as funções e cuidados com o filho/a filha devem ser executadas pelas mulheres.
 Como falar em cuidados compartilhados entre os pais se a licença paternidade é de apenas cinco dias enquanto a licença maternidade é de quatro a seis meses? A não criação de vínculo parental pelo pai da mesma forma como acontece com a mãe, pela ausência de tempo dedicado, leva a nefastas consequências, como o acúmulo de tarefas pela mãe que também trabalha fora de casa.

Obs.: a Lia Lopes nos passou referências de textos e pesquisas que relatam melhor a situação da mulher no mercado de trabalho! Vale a pena dar uma olhada :)

http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A31B027B80131B40586FA0B89/anuarioMulheresBrasileiras2011.pdf

http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/nota_tecnica_tempo_trabalho_e_genero.pdf

http://ww2.ie.ufrj.br/eventos/seminarios/pesquisa/texto06_05_02.pdf

http://www.laeser.ie.ufrj.br/PT/tempo%20em%20curso/TEC%202014-01.pdf

http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2012/02/mulheres-na-politica/

http://www.ovalentenaoeviolento.org.br/Artigo/65/Futebol-Brasileiro-e-cantor-Fagner-aderem-a-iniciativa

http://www.criola.org.br/artigos/LEMBRANDO_LeLIA_GONZALEZ.pdf




Nenhum comentário:

Postar um comentário