Esta quinta foi como um recomeço. Discutimos um texto muito popular em grupos feministas: “O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir. Publicado em 1949 e considerado uma das obras mais influentes para o movimento feminista. No Brasil, foram publicados dois volumes. Dividimos a discussão em dois encontros. Nesta primeira falamos sobre o volume 1: "Fatos e mitos.
O volume faz uma reflexão sobre as questões que historicamente condicionaram o comportamento da mulher durante séculos - a dominação, submissão, mitos biológicos e a mulher do ponto de vista psicanalítico, que é muitas vezes ambíguo. Segundo Simone, a mulher não é fadada a sua biologia, ela é formada dentro de uma cultura patriarcal que define seu papel independente de sua vontade. A obra de Beauvoir nos inspira a despirmos nossos conceitos sobre a criação da mulher e seu jeito “naturalmente” construído.
“Como as representações
coletivas e, entre outros, os tipos sociais definem-se geralmente por pares de
termos opostos, a ambivalência parecerá uma propriedade intrínseca do Eterno
Feminino. A mãe santa tem como correlativo a madrasta cruel; a moça angélica, a
virgem perversa: por isso ora se dirá que a Mãe é igual à Vida, ora que é igual
à Morte, que toda virgem é puro espírito ou carne votada ao diabo. Não é
evidentemente a realidade que dita à sociedade ou aos indivíduos a escolha
entre os dois princípios opostos de unificação; em cada época, em cada caso,
sociedade e indivíduos decidem de acordo com suas necessidades. Muitas vezes
projetam no mito adotado as instituições e os valores a que estão apegados.
Assim, o paternalismo, que reclama a mulher no lar, define-a como sentimento,
interioridade e imanência; na realidade, todo existente é, ao mesmo tempo,
imanência e transcendência; quando não lhe propõem um objetivo, quando o
impedem de atingir algum, quando o frustram em sua vitória, sua transcendência
cai inutilmente no passado, isto é, recai na imanência; é o destino da mulher,
no patriarcado; não se trata, porém, da mesma vocação tal como a escravidão não
é a vocação do escravo. Percebe-se claramente, em Comte, o desenvolvimento
dessa mitologia. Identificar a Mulher ao Altruísmo é garantir ao homem direitos
absolutos à sua dedicação, é impor às mulheres um dever-ser categórico.” O
Segundo Sexo, volume único. São Paulo: Nova Fronteira, 2010, p. 345.
O segundo sexo não é um livro para
buscar fontes de pesquisa histórica, ele é importante para discutir a questão
da mulher independente de seu momento cronológico. Foi isso que fizemos na
última reunião, conversando sobre temas atuais sob a temática exposta no livro
por Simone. Falamos de infância, gravidez, casamento, cultura patriarcal, ou
seja, temas atuais que foram muito bem definidos por Beauvoir há mais de 50
anos.