sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O privilégio da sororidade

Arte: Camila Araujo
            Na reunião do dia 18/9, a Frente Feminista Casperiana Lisandra debateu questões ligadas ao islamismo e feminismo, com mediação das alunas Juliana Causin e Bárbara Blum.  Com base no texto “Islamofobia não é feminismo” da Revista Pittacos, refletimos sobre a imposição de um feminismo branco e ocidental voltado para questões diferentes do que as mulheres islâmicas priorizam. Dentro desse assunto, discutimos o caso FEMEN, quando algumas ativistas do grupo protestaram parcialmente nuas, com turbantes de toalha e barbas falsas pela libertação das mulheres islâmicas.
            Lemos a carta escrita por tais mulheres em resposta às ações do FEMEN, listando um por um os motivos pelos quais acreditavam que o grupo ucraniano estava sendo racista e islamofobico em nome da “liberação feminina”. Com base nisso, discutimos as diferentes formas de fazer o feminismo, considerando que os lugares de predominância religiosa islâmica ou muçulmana vivem contextos diferentes. Novamente, recorremos ao material escrito para tentar compreender um relato de uma ativista na Palestina, local no qual as mulheres negam o uso de anticoncepcionais, pois ter filhos é criar uma resistência numérica contra Israel.
As mediadoras da reunião: Bárbara Blum e
Juliana Causin / Foto: Marina Braga
            Levamos em consideração a conjuntura presente e discutimos, também, qual é a relação do avanço do ISIS na região da Síria e do Iraque com as mulheres. O líder Abu Bakr al-Baghdadi prega a mutilação genital feminina como forma de purificação, algo usualmente restrito a algumas tribos da região norte da África. Os países com maior incidência da MGF são o Mali, o Sudão e a Somália, mas ocorre em menor quantidade em outros países, como Egito e Etiópia.
            É importante relembrar que não se pode falar em “cultura islâmica” por ser algo que abrange muitas regiões diferentes, povos distintos e práticas completamente opostas. A prática da mutilação genital feminina não está ligada ao islamismo, mas, sim, a outras culturas específicas, que podem (ou não) ter ligações com a religião.
            A mutilação genital, por ser um exemplo tão extremo de algo que está sendo relacionado ao islamismo por causa da expansão do ISIS, serviu para discutirmos a maior questão por trás dessa reunião: até que ponto podemos julgar alguma prática descontextualizada em nossa cultura utilizando o nosso feminismo branco e ocidentalizado como filtro? As opiniões divergem: algumas mulheres defenderam que temos, no Ocidente, práticas tão agressivas quanto a MGF normalizadas e que não podemos, portanto, julgar esse costume. Outras acreditam que, pelo tamanho da violência que é infligida às mulheres submetidas à mutilação, a prática deve ser problematizada.

            A reunião foi muito importante para refletirmos sobre a questão do “outro” no Feminismo. Como disse a militante franco-argelina Houria Boultedja, “Isso queria dizer: por que é que vocês, as mulheres brancas têm sozinhas o privilégio da solidariedade? Vocês também são espancadas, violadas, vocês também sofrem a violência masculina, vocês também são mal pagas, desprezadas, o vosso corpo também é instrumentalizado”. Apesar de sermos mulheres, temos de rever nosso privilégio, seja ele branco, seja ele o de viver numa cultura ocidental a todo momento, para que possamos compreender a luta de mulheres diferentes como iguais a nós. O privilégio da sororidade não cabe às mulheres brancas, mas a todas nós.

A luta das mulheres islâmicas vai muito além do feminismo. A islamofobia no mundo é grande e a cultura muçulmana é muito desrespeitada. / Foto: Marina Braga

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Gordofobia

Em maio um dos temas discutido em reunião foi “Padrões de Beleza”, em agosto o assunto foi aprofundado e a gordofobia, ou lipofobia, foi abordada. A medição ficou por conta de Giulia Araujo.
Na Grécia Antiga havia um culto ao belo corpo, as estátuas sobreviventes exibem um porte atlético e simétrico. Apesar disso não se pode afirmar que o corpo sarado era um ideal imposto, por exemplo, para Platão (pensamento exposto no diálogo intitulado Fedro) o belo independe do físico, ele é autônomo. Por vezes acontece do material acidentalmente manifestar beleza, mas isto é apenas uma falsa cópia.
Já na Idade Média, a gordura passa a ser vista de forma positiva. Sociedades subnutridas tendem admirar a obesidade. Quando todos passam fome, excesso de tecido adiposo é sinal de riqueza e beleza. Inclusive no livro O Grande Massacre de Gatos e Outros Episódios da História Cultural Francesa, Robert Darnton ao analisar o conto maravilhoso La Petite Annette – história similar à da Cinderela – relata que quando Annette principia a engordar, concomitantemente ela passa a adquirir beleza também.
Na virada do século XIX para o XX, no Brasil e no mundo o culto à boa forma começa a se expandir. Difusão de esportes, férias remuneradas, banhos de mar, roupas mais curtas e justas, uma mentalidade higienista e o império hollywoodiano são alguns dos fatores que contribuem para o início da ditadura da magreza.
Analisou-se o pensamento de dois autores sobre o assunto. Para Naomi Wolf, além dos interesses da indústria dietética, a ditadura da magreza se mantem como uma forma de opressão encontrada pelo machismo (mais detalhes em O Mito da Beleza). Já Gilles Lipovestsky, apesar de concordar sobre o interesse industrial em uma política da magreza, diz que a magreza foi uma forma que a mulher encontrou para negar sua feminilidade – principalmente com a onda andrógena dos anos 70 – e se autoafirmar (pensamentoA Terceira Mulher).
exposto no livro
Por que xingar de 'viado' ou de 'preto' é mal visto hoje em dia, mas a expressão "fazer gordisse" ainda é considerada engraçada? / Foto: Marina Braga
A partir de então se discutiu as pressões sociais que as mulheres da reunião enfrentavam para continuarem magras e, com o apoio do texto Como é ser gorda, foi debatido o quanto a sociedade é excludente quando se trata de obesos.
Uma das conclusões que os participantes chegaram é que a opressão da magreza incide muito mais na mulher do que no homem. Enquanto dietas é um tema constante nas revistas femininas, nas masculinas pouco se fala sobre cuidados com o peso. Também há uma descriminação no sentido de se achar que homens cm barriga são trabalhadores e esorçados enquanto as mulheres com sobrepeso são desleixadas.

Por fim foi abordada a expressão “fazer gordisse”. A expressão é extremamente preconceituosa e é o equivalente a “preto fazer pretisse”. Contudo “fazer gordisse” é usado a exaustão e sem reflexões. Na nossa sociedade, gordofobia não é nem caracterizado como um tipo de preconceito.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Reflexões sobre a Marcha das Vadias


Créditos da imagem: Zanone Fraissat/Folhapress / Arte: Camila Araújo         
Às vésperas da IV Marcha das Vadias, em São Paulo, a Frente Feminista Casperiana Lisandra promoveu uma roda de conversa sobre o evento. Com a presença das convidadas Gabriela Freller e Isadora Szklo (RUA), Carolina Borghi Ucha (JUNTAS) e Beatriz Beraldo Batista, que defendeu a Marcha em sua tese de mestrado na ESPM, a reunião descontruiu e, em seguida, reconstruiu o significado desse acontecimento do próximo sábado (24 de Maio).
Beatriz Beraldo, pesquisadora da Marcha
fez a primeira fala / Foto: Marina Braga
“A mulher na sociedade é esquartejada”, iniciou Beatriz. Com o seu trabalho “POR SAIAS E CAUSAS JUSTAS: feminismo, comunicação e consumo na Marcha das Vadias”, a estudante, e também ativista, criticou a relação da publicidade com a mulher e com a Marcha. À medida que essa mídia não nos trata como sujeito, o produto passa a ser o nosso porta-voz e as joias, sapatos e outros artefatos acabam por nos representar nas propagandas. Dessa forma, falar sobre a mulher referindo-se apenas às partes do seu corpo passa a ser algo comum na sociedade. Não é à toa, portanto, que os jornais e a internet divulgam algumas manifestações feministas com enfoque apenas nas partes do corpo despidas durante o evento, como o topless. Assim, deixam de lado toda a ideologia e os debates envolvidos no movimento.  
Carol Ucha, do coletivo Juntas, deu
sequência no debate / Foto: Marina
Braga
Em seguida, Carolina levantou a questão da importância da Marcha: é um dos primeiros contatos das pessoas com o feminismo mais a fundo, disseminando-o. “Vá lá e converse com as pessoas”, recomenda. Segundo ela, esse ano, após as jornadas de Junho de 2013, as constantes greves e manifestações contra a Copa, além das polêmicas de assédios no metrô, a pesquisa incorreta divulgada pela IPEA em relação ao estupro e o assédio sofrido pela bandeirinha recentemente em uma partida de futebol, indicam que a Marcha terá uma boa repercussão.
Gabriela Freller, representando o coletivo
RUA, fez a última fala, que abriu o debate
para o restante das pessoas na roda / Foto:
Marina Braga
Apesar das grandes expectativas, Gabriela mostrou alguns problemas que o evento enfrenta: o enfoque na emancipação individual, o uso da nudez (que tem um papel importante, mas só aparece na mídia pelo seu conteúdo sexual) e a inibição causada a mulheres que não se reconhecem com o termo “Vadia”, que foi tomado como forma de protesto após a fala de um policial canadense, que se pronunciou sobre uma onda de estupros que vinham acontecendo no Canadá, dando, então, origem à Marcha em 2011 no mesmo país.
O debate continuou com a questão da mulher negra no movimento feminista. Devido ao fato de muitas mulheres negras já se declararem contra a Marcha Das Vadias, Isadora explicou que muito disso se deve à época da colonização. Como as brancas eram “materiais para o casamento” e, portanto, intocáveis, os homens precisavam provar sua virilidade mantendo relações sexuais com suas amantes, no caso, as escravas negras. Assim, foi atribuído a elas um estigma sexualizado de maneira pejorativa até hoje.
O tema desse ano da Marcha das Vadias é "Quem cala não consente" colocando em pauta
a questão da cultura do estupro / Foto: Marina Braga
Além disso, foi levantada a questão da complexidade social em que essas mulheres estão inseridas. A negra, principalmente a de periferia, se vê diante de um dilema: sobreviver ao lado do seu opressor ou lutar pelos seus direitos como mulher juntamente à sua patroa racista. Grande parte possui demandas mais urgentes que remetem à sua própria sobrevivência. Dessa forma, o machismo existente em suas vidas acaba não sendo detectado.

Muitas histórias e reflexões foram levantadas em torno dessas questões e a reunião extrapolou seu limite, ocorrendo até 19h30min da quinta-feira. Entretanto, ficou claro para todas nós que ainda se tem muito para discutir, aperfeiçoar e, principalmente, lutar. Quem cala, NÃO consente!

segunda-feira, 19 de maio de 2014

II Semana de Mulher e Mídia





Ficamos muito felizes em anunciar que, a partir de amanhã, realizaremos a II Semana de Mulher e Mídia, que discute a representação e a participação de mulheres nos meios de comunicação.
Nos dias 19, 21 e 23 (seg, qua, sex) de maio, nos reuniremos em dois períodos: das 11h30 às 13h, logo após a aula da manhã, e das 17h30 às 19h, antes da aula da noite, na sala Aloysio Biondi, no quinto andar.

Programação:
Segunda (19/5)

11h30 - 13h -> Feminismo na mídia. A mesa discutirá a representação dada ao movimento feminista pelos grandes veículos de comunicação. Convidadas: Marilia Moschkovich (mariliamoscou e Outras Palavras), Sayuri Kubo (jornalista, Juntas) Mediação: Marina Braga.


17h30 - 19h -> Blog: ferramenta feminista. Blogs são, hoje, os grandes disseminadores do pensamento feminista no Brasil. A liberdade digital proporciona um espaço de discussão de ideias e organização de campanhas. Convidadas: Jéssica Ipólito (Gorda e Sapatão), Luka Franca (Blogueiras Feministas) e Isabela Kanupp (Para Beatriz) . Mediação: Marina Cipolla.

Quarta (21/5)

11h30 - 13h -> As mulheres nos bastidores. Em parceria com o Cine Clube Paradiso, exploraremos como diretoras, roteiristas e produtoras brasileiras participam de um mercado tão restrito quando o cinematográfico. Convidadas: a confirmar. Mediadoras: Mariana Agati e Giulia Araújo.

17h30 - 19h -> Sexualidade feminina na mídia. Como a sexualidade da mulher é representada na mídia? Como novelas, séries e filmes contribuem para dicotomia “santas ou putas”? Além disso, quais as diferenças na sexualização da mulher negra em relação à branca? Essa mesa pretende discutir isso. Convidadas: Nádia Lapa (Cem Homens, Carta Capital), Paola Diniz (AfroedicAção), Elisa Gargiulo. Mediadora: Beatriz Cano.

Sexta (23/5)


11h30 - 13h
-> Mulher e tecnologia. A primeira pessoa a programar um computador na história foi uma mulher: Ada Lovelace (1815-1852). Desde então, houve uma dissociação entre mulheres e tecnologia. Essa mesa pretende, além de considerar as razões disso, pontuar a importância da conexão de mulheres com o tema e apresentar projetos que pretendem mudar isso. Convidadas: Diana Assennato e Natasha Madov (Ada.vc, revista Tpm), Daniela Silva (rodAda Hacker), Camila Achutti (Technovation Challenge Brasil). Mediadora: Letícia Dias.

17h30 - 19h -> Mulher e Minoria. E quando, além de submetida ao sexismo, a mulher também sofre por outras opressões? Racismo, transfobia, lesbofobia, classicismo… Como essas mulheres são representadas pela mídia - se é que o são. Convidadas: Thandara Santos (Marcha Mundial das Mulheres) & outras a confirmar. Mediadora: Giulia Ebohon.



quinta-feira, 15 de maio de 2014

Padrões de Beleza

Crédito da foto para a campanha "Love My Body" da Victoria's Secret / Arte: Camila Araujo
     Na reunião de quinta-feira (15/5), mediada por Giulia C. G. Araujo, o tema abordado foi “Padrões de Beleza”. Como base foi utilizada a introdução do livro “Mito da Beleza”, da escritora feminista Naomi Wolf.
     O encontro começou com a pergunta: seria “ditadura” uma palavra muito forte para ser adotada no termo “ditadura da estética”? Xs participante acreditam que, apesar de forte, a palavra é cabível, visto que são impostas regras às mulheres de como estas devem se portar e se apresentar diante da sociedade.
     Sob a ótica histórica, a maior participação feminina no espaço público, devido à urbanização, trouxe consigo a ideia de que toda mulher deve sair bem vestida, com a pele perfeita e o cabelo arrumado. Como exemplo disso, foi citado o espartilho, que em sua época era essencial para todas as mulheres.
Giulia Araujo (primeira, da esquerda para a direita) mediou o debate que
rolou em frente a sala do CAVH
     A política do consumismo vigente no sistema capitalista é reforçada para as mulheres. As revistas femininas ditam o que estas devem comprar para se encaixarem nas normas da sociedade. A magreza e a juventude são os principais pontos dedicados ao público feminino, fazendo com que, muitas vezes, a obsessão delineie a mente das mulheres. Obsessão, essa, que pode gerar sérios problemas como anorexia, bulimia, entre outros.
     É importante ressaltar a diferença que há entre padrões de beleza de determinadas classes sociais. Enquanto que para as mulheres de classe alta a magreza é priorizada, para aquelas de classe baixa as curvas à la Valesca Popozuda são mais valorizadas.
     Após essas reflexões, chegamos a conclusão de que a beleza varia conforme espaço, tempo e sociedade. Em relação a esse tema, o feminismo é fundamental, pois este mostra às mulheres que elas tem liberdade para optar por seguir os padrões ditados pela sociedade ou simplesmente quebrá-los.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Feminismo e Funk

Crédito da imagem à Agência Olhares / Arte: Camila Araújo
O tema da reunião da segunda semana de maio foi “Feminismo e Funk”. As mediadoras foram Giulia Araujo e Julia Guadagnucci.
Antes de começar a reunião, as mediadoras deixaram acordado que iriam tratar apenas do Funk cantado por mulheres, porque, pelo que elas haviam pesquisado, não havia feminismo no Funk cantado por homens.
Valesca Popozuda foi o primeiro grande assunto a ser debatido. Ela é ou não feminista? Independente de o ser, já foi um grande passo Valesca se assumir como partidária do movimento. Esse gesto provavelmente deve ter levado muitas mulheres a refletirem sobre o tema e sobre suas liberdades.
As mediadoras Julia Guadagnucci e Giulia Araujo / Foto:
Marina Braga
O prisma social do Funk também foi abordado durante a discussão. Além de algumas músicas (Piranha É O Caralho Você Não Sabia O Que Eu Sofria Em Casa e Agora Virei Puta, por exemplo) tratarem de violência doméstica, outras versam sobre o cotidiano da mulher. Uma das participantes da reunião lembrou do documentário Sou Feia Mas Tô na Moda e de um música, citada no filme, que fala sobre a necessidade da mulher ir ao ginecologista.
Outro grande tema do debate foi a falta de sororidade nas letras de Funk. Foi notado como as mulheres estão sempre contra as inimigAs e não contra inimigxs. No entanto levando-se em conta que o viés feminista da liberdade sexual surgiu nas letras de Funk de forma espontânea, não se pode exigir algo tão complexo, como sororidade, das funkeiras.
Também foi lembrado que o Bonde das Maravilhas (Quadradinho de 8 e Academia) canta sobre dança, e não sobre homens e “inimigas”. Um outro ponto levantado foi que entre os presentes, ninguém conhecia a fundo o Funk e nem tinha o costume de ir nos famosos bailes.
Depois de muita conversa chegamos a um denominador comum. A relação Funk e Feminismo é tão delicada de se debater, porque tem muito de social envolvido.


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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Repressão da sexualidade da mulher

            
Arte por Camila Araújo / Crédito da foto: Linda Ingraham


            Em virtude do feriado do Dia do Trabalho, a reunião sobre a repressão da sexualidade da mulher foi feita hoje (quarta-feira) e contou com a mediação de Tamiris Medeiros e Ana Julia Gennari.
Tamiris iniciou com a questão das fotos de mulheres nuas que caem na net. Então o debate começou e todxs concordaram que não há problema em uma mulher mandar fotos expondo seu corpo, mas, sim, em quando essa foto vaza sem que haja permissão. E, é claro, que sempre é a mulher que fica mal-falada. O caso da Fran foi lembrado como exemplo: “caso da Fran”. Da Fran? E o machista que traiu a confiança dela? Nem lembramos o nome, né…
Alguns casos foram contados para quem estava na roda. Dois deles, por exemplo, diziam respeito à meninas que foram expulsas da escola em que estudavam por mandarem fotos nuas para seus respectivos namorados. Porque só elas foram expulsas? Aliás…porque elas foram, de fato, expulsas? E os caras que espalharam essas fotos?
Tamiris e Ana Julia relevam o
fato da mulher ser oprimida, porém
objetificadas também. (Foto: Marina
Braga)
Sobre a falta de sororidade entre mulheres, concordamos que ser mulher é sofrer violências (física e simbólica) constantemente. A repressão também está presente quando alguém fala para a mulher como ela deve se vestir. Sair com uma saia ou com um decote já é motivo para que, mulheres inclusive, digam que “ela só quer chamar a atenção dos homens” ou “essa aí tá querendo”. No caso dos homens que se deparam com uma mulher que se veste do jeito que quer, o pensamento culmina no assédio nas ruas.
O incrível é que, sempre que esse tópico é colocado na roda, TODAS as mulheres presentes tem histórias para contar. Dessa vez, não foi diferente. Muitos casos dessa violência simbólica foram desabafados. Na balada, nas ruas, em churrascos e até nas aulas de Muay Thai (já que, homem nenhum pode apanhar de mulher, né?). Acabamos concordando também que a mulher é ensinada a não responder, a ficar quieta quando é agredida ou reprimida (principalmente quando leva cantada na rua). É preciso ter medo da reação à resposta, vai que o cara tem uma faca. E….além do mais: mulher que responde é mal-educada. Mulher que reage é mulher-macho. Que feio.
Achamos, então, um caminho para concluir que a sexualidade da mulher é reprimida desde que ela nasce, ou seja, é uma construção. O maior exemplo disso é quando meninas, ao usarem vestidos, são constantemente repreendidas por suas mães (no geral), que dizem para elas fecharem as pernas, por serem “mocinhas.”
Véspera de feriado (e JUCA, diga-se de passagem) não foi
forte o bastante para vencer a reunião! (Foto: Marina
Braga)
A menstruação, a masturbação, os palavrões e a pornografia são tópicos importantes, que foram lembrados pela Ana Julia, quando falamos de repressão da sexualidade da mulher, já que são considerados tabus para/por elas. Enquanto o homem é estimulado a exercer sua sexualidade (pelo simples fato de nascer com um pênis), um abismo é criado entre a mulher e o próprio corpo dela, por isso, ela acaba não se conhecendo. Fica o paradoxo: mulheres não são sexuais, mas sexualizadas. A indústria pornográfica ilustra bem essa faceta da repressão, principalmente em vídeos de pornô lésbico (as unhas -postiças ou não- mega longas são o melhor ~pior~ exemplo disso). Todos os fetiches colocados em prática são voltados para o prazer do homem.

Com o tempo da reunião se esgotando, os casos de assédio sexual nas ruas foram retomados e mais desabafos foram feitos até que o sinal batesse.



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quinta-feira, 27 de março de 2014

Assédio no espaço público

Imagem retirada de: http://nadafragil.com.br/mulheres-e-o-assedio-nas-ruas/ - Arte:Camila Araújo
Na reunião de hoje, o assunto da Frente Feminista Casperiana Lisandra foi assédio em ambientes públicos. As mediadoras foram Marina Cipolla e Natália Freitas. A discussão começou abordando os recentes casos do metrô e a pesquisa mais antiga, mas super importante, do blog Think Olga
Praticamente todas as mulheres já sofreram assédio e dentre as participantes do encontro não é diferente: quando questionadas a respeito do assunto, quase todas se manifestaram afirmando já terem passado por esse tipo de situação. Trata-se de uma invasão à privacidade de uma moça, além de ser uma ação que poda sua liberdade de ir e vir quando e da maneira que quiser. Afinal, muitas pensam duas vezes em quais roupas usarão quando sabem que precisarão voltar sozinhas e muito tarde para casa, por exemplo.
As mediadoras Natália Freitas e Marina Cipolla
(Foto: Marina Braga)
Coincidentemente, a reunião ocorreu no mesmo dia em que, horas antes, havia sido divulgada a pesquisa do Ipea cujas conclusões apontavam 65% da população afirmando que quando a mulher usa roupas que apareçam o corpo, ela merece ser atacada. O estudo foi debatido e o resultado, rejeitado pelxs presentes. Como a vestimenta da mulher pode determinar que ela mereça algo tão cruel quanto um estupro, um ataque ou um mero fiu-fiu? É doentio por parte da sociedade amenizar a culpa de um criminoso. Quem torna a vida da mulher insegura são essas pessoas, não a liberdade da mulher de se vestir como quiser. Logo depois, os casos mais recentes ocorridos no metrô foram comentados. Como se não bastasse as mulheres terem que usar um transporte público em condições desumanas, elas ainda são submetidas à desagradável e constante ação de encoxadores. Não é um comportamento novo, porém ele parece ter se intensificado ultimamente, depois da criação de páginas em redes sociais que o incentivam.
Visando solucionar o problema, há algum tempo cidades como Brasília e Rio de Janeiro adotaram o vagão rosa, específico para o uso de mulheres. No entanto, eles não são uma medida que visa reeducar a população. Por fim, a conversa rumou para o âmbito pessoal. Além de ser um momento no qual várias meninas revelam situações ruins pelas quais passaram, muitas acabam tocando em um ponto delicado: o ambiente familiar. O que fazer quando o preconceito e o machismo estão dentro de casa? O que fazer quando os próprios pais e mães condenam as roupas, culpam as vítimas, reprimem suas filhas e as tratam diferente de seus filhos? Infelizmente, tudo isso é muito comum. Enquanto nossa sociedade não muda, a Frente Feminista Casperiana Lisandra continua propondo reflexões.


Bastante gente participando da reunião, contando casos e reclamando dessa
cultura do "fiu-fiu" / Foto: Marina Braga



Textos de base para a reunião:

http://blogueirasfeministas.com/2013/10/sorria-princesa-palavras-que-nenhuma-mulher-que-ouvir/

http://thinkolga.com/chega-de-fiu-fiu/

http://thinkolga.com/2013/09/09/chega-de-fiu-fiu-resultado-da-pesquisa/



Imagem retirada da página no Facebook "Feminismo sem
demagogia"

quinta-feira, 20 de março de 2014

Questão Trans*

Arte: Camila Araújo
A primeira reunião em conjunto da Frente Feminista Lisandra com a Frente LGBT+ Casperiana aconteceu no dia  20 de março, tendo como tema a Questão Trans* e sendo mediada por Marina Garcia e Letícia Dias.
Iniciamos a reunião tratando das distinções entre sexo biológico, expressão de gênero, identidade de gênero e orientação sexual. O debate seguiu com dúvidas principalmente relacionadas a percepção do indivíduo enquanto sujeito trans*, em seguida  caminhou para a invisibilidade social pela qual esta pessoa passa. Foram enumeradas as infinitas dificuldades relacionadas a vivência cotidiana e a própria violência que a comunidade trans* sofre, como a utilização do banheiro e as dificuldades em conseguir usar o nome social em ambientes de trabalho.
As complexidades do tema sendo debatidas em frente ao CAVH, na Cásper
Foto: Marina Braga
Ainda na discussão inicial sobre identidade de gênero e expressão de gênero foram destacadas as amarras sociais impostas a cada indivíduo. Socialmente é esperado de cada pessoa, de acordo com seu sexo biológico, uma série de comportamentos pré estabelecidos sendo desta forma necessário para atingir a livre expressão de qualquer forma de gênero e sexualidade o rompimento com este sistema.

O esqueminha trazido pela Marina Garcia para
explicar melhor as nomenclaturas e
definições / Foto: Marina Braga

Com a maioria das dúvidas mais básicas esclarecidas, tentamos contextualizar a questão dentro do feminismo. Refletimos se o destaque dado a mulheres trans* dentro do feminismo e a invisibilidade dos homens trans* tem a ver com o gênero como elxs foram socializadxs até a transição. Também falamos sobre os conflitos entre certas correntes do feminismo (principalmente o feminismo radical) e pessoas trans*.

Exploramos a origem desses conflitos, as motivações por trás das ações de cada grupo, e procuramos quebrar preconceitos e entender essas relações de um ponto de vista neutro, para que cada pessoa pudesse fazer sua própria reflexão e estimular o estudo próprio sobre o assunto.







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quinta-feira, 13 de março de 2014

Lesbofobia e Bifobia; o Universo Não Hétero

Foto retirada do site http://jandirainbow.wordpress.com/ / Arte: Camila Araújo
      Na reunião de hoje, contamos com a mediação de uma pessoa de fora do Grupo de Ação da Lisandra: além da integrante Marina Braga, Maria Eugênia Holtz também tomou a frente do debate para discutir a questão da Lesbofobia e da bifobia.
     Presentes em nosso cotidiano, esses preconceitos são explicitados por quebrarem a estrutura social heteronormativa, que parece tão natural aos olhos de quem toma para si certos signos culturais, como o de que é o corpo que serve como premissa para nossas relações sexuais. Isso é, nasceu com um pênis: é menino e sentirá atração por meninas; nasceu com uma vagina: é menina e sentirá atração por meninos.
     Segundo a filósofa Judith Butler, é necessário que essa ordem compulsória se subverta, desmontando a obrigatoriedade entre sexo, gênero e desejo: “o gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente dado (...) tem de designar também o aparato mesmo de produção mediante o qual os próprios sexos são estabelecidos” (trecho retirado da obra de Butler Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade, de 2010 – p. 25).
     Ao longo da reunião, vários apontamentos foram feitos em relação a essas fobias (existentes em função da cultura da heteronormatividade). Sobre o lesbianismo é comum que a gente ouça e leia por aí, que ele só exista porque “essas mulheres ainda não encontraram o ‘macho-alfa’, o ‘pinto-salvador’” ou qualquer outra denominação que coloque o homem como salvador.
     Não! Mulheres não são obrigadas a cultuar símbolos fálicos! E....sim: sexo sem penetração também é sexo.
     Infelizmente, como explicado acima, a aceitação dessas condições por uma sociedade patriarcal é muito difícil. E o maior (e pior) exemplo disso são os “estupros corretivos”: mulheres que se assumem lésbicas podem sofrer com esse tipo de atitude desumana, que explicita a ofensa pessoal de um homem em não ser capaz de satisfazer uma mulher.
     A mídia colabora muito com a lesbofobia. É o desejo do homem que está em jogo. A indústria de revistas (inclusive femininas), por exemplo, compactua por colaborar (e colabora por compactuar) com a cultura heteronormativa, objetificando as mulheres. Assim também acontece com a publicidade, a mídia televisiva e radiofônica.
     Outra indústria que incentiva (e muito) a lógica de que “homens que transam entre si são gays e mulheres que transam entre si são mal-amadas” é a pornográfica. O filme Azul é a Cor Mais Quente é a melhor quebra dessa exposição machista do sexo entre mulheres. Em filmes pornôs, mulheres só estão lá para satisfazer o homem que as assiste, então, em uma nova lógica totalmente nonsense, as atrizes possuem unhas enormes e fazem performances que não condizem com o que realmente acontece entre lésbicas, pois se trata de fetiche. Isso mesmo. Mulher foi feita para dar prazer ao homem, portanto, mesmo quando não transa com o homem, também deve satisfazê-lo). Vide reação de lésbicas ao assistir pornô lésbico (vídeo acima).

     Em relação à bifobia, argumentos sem fundamentos são dados para tentar explicar esse “triste fenômeno que envolve homens e mulheres”. Uma pesquisa do Datafolha em 2009 apontou que mais de 5 milhões de pessoas no Brasil são bissexuais. Essas pessoas vão definitivamente contra o maniqueísmo que a sociedade também defende com unhas e dentes: ou você é hetero ou é gay/lésbica. Essa indecisão não pode existir. É muita promiscuidade. Ou você está claramente apenas passando por uma fase.
     É tão comum ouvir que “quem se declara/assume bissexual está tentando escapar da homofobia!” Uma pessoa bissexual encara muitas dificuldades quando “se descobre”. Acontece que rótulos/definições/nomenclaturas sempre são dadas às pessoas e a confusão na pequena cabeça da sociedade começa quando alguém que é taxado de lésbica passa a ficar com homens também. E a pressão é tamanha, que a própria pessoa se questiona: “estava eu mentindo para mim mesmx?” Não! Não estava! É normal ser capaz de se relacionar com ambos os sexos.
     É normal se relacionar com seres humanos. O pansexualismo também é esquecido nessas horas e recebe as piores falácias, já que “são pessoas que transam com árvores”
     Oi?
     Umx pansexual é atraídx por todos os gêneros, isso é, sua atração sexual vai além dos gêneros “convencionais”: trans* e  genderqueer. Voltamos, então, genitalização das definições.   
     Por fim, o debate voltou as questões ligadas ao filme Azul é a Cor Mais Quente, como as polêmicas cenas de sexo e as interpretações ligadas as sexualidades da Adèle e Emma.

Reunião bombou de novo e o debate foi muito legal! / Foto: Marina Braga


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domingo, 9 de março de 2014

Reunião mensal - Março

No dia  seguinte ao 8 de março, domingo, nos encontramos no Parque Ibirapuera para rever as questões discutidas durante o mês de fevereiro. Apesar de o sábado ter sido de luta, desde o ato até nossa participação nas ações da Casa de Lua, nossa primeira reunião mensal de 2014 foi proveitosa.
Em frente à Oca, no Ibirapuera, uma roda de discussão sobre os temas de
fevereiro / Foto: Letícia Dias
Nossa primeira pauta foi retornar às reflexões impulsionadas pelas ações machistas que ocorreram no trote e falamos sobre machismo no ambiente universitário. Falamos sobre as ações das Atléticas de cada faculdade, através de festas e jogos universitários. Além disso, destacamos que as universidades, inseridas na nossa sociedade patriarcal, refletem as relações de opressão estruturais como qualquer outra instituição. Como não poderia deixar de ser, falamos da realidade
 casperiana, onde a maioria absoluta do corpo discente é feminino.

 O tema seguinte, no entanto, acabou concentrando o resto da reunião: culpabilização da vítima. Assunto delicado, contextualizamos a formação desse mecanismo ainda na infância e sua influência cada vez mais nociva nas nossas vidas e decisões. Conversamos sobre casos isolados de abuso e estupro que, infelizmente, ainda refletem um padrão. 

sábado, 8 de março de 2014

8 de Março - Dia internacional da mulher

Há quem diga que lutar pelo feminismo é ultrapassado, alegando que as mulheres já conquistaram tudo o que “precisavam”. Mas não foi isso que as maisde sete mil mulheres em marcha no último dia 8 de março mostraram para asociedade. Munidas de instrumentos de percussão, microfones, carros de som, cartazes e suas vozes marcharam da Avenida Paulista à Praça Roosevelt, pintando de roxo a atmosfera de São Paulo em mais um Dia internacional de Luta das Mulheres.

Lisandra na marcha do 8 de março
A Frente Feminista Casperiana Lisandra estava presente na marcha. Fomos vestidas com cartazes coloridos com dizeres como: “Meu corpo não é um convite”, “Lugar de mulher é onde ela quiser”. Foi extremamente emocionante ver desde crianças, jovens e senhoras, até homens apoiadores da causa lutando pelo feminismo. Pois, são em momentos como esse que percebemos que as conversas que temos dentro da faculdade não são solitárias, não lutamos por uma causa tão importante e difícil sozinhxs, temos miliares de companheirxs na luta conosco.

Após a chegada na Praça Roosevelt partimos para o nosso compromisso na Casa De Lua, local onde aconteceram, neste 8 de março, várias rodas de discussões em torno do tema ‘mulher’. A roda a qual fomos convidadas para endossar foi sobre feminismo na universidade contra o trote machista. Lá encontramos colegas do coletivo Chute da ESPM, Frente Perspectiva do Mackenzie, Coletivo 3 Rosas da PUC, entre outras pessoas. Foi uma experiência riquíssima, todxs expondo com muito respeito seu ponto de vista sobre o assunto, dividindo experiências e discutindo.

Créditos da imagem: DCE da Universidade Federal de
Rondônia / Arte por Camila Araújo

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