quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O machismo mata. O feminismo vive!

Na mesa 1: as convidadas Juliana de Faria e Sílvia Amélia debatem com
integrante da FFCL Carolina Serpejante sobre o feminismo na mídia,
juntamente ao professor Chico Nunes, que mediou a conversa / Imagem:
Marina Braga

A Frente Feminista Casperiana Lisandra teve seu espaço na Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e soube aproveitá-lo da melhor maneira possível. Escolheu quatro temas pertinentes (não esquecendo dos demais, mas havia um limite) e os distribuiu em salas diferentes, para que cada pessoa pudesse decidir em qual sala ficaria. Bonito e ao mesmo tempo triste não poder ver os quatro debates, e este foi um sentimento que tomou conta de grande parte dos presentes naquela noite.

Na sala onde o “Feminismo é a Mídia” era o tema central, as convidadas eram Juliana de Faria, este tópico foram: Juliana de Faria, jornalista e blogueira do thinkolga.com e uma das criadoras da campanha “Chega de Fiu-fiu”, e Silvia Amélia, ex-editora de comportamento da Gloss. A mediação ficou por conta do professor de Filosofia da Faculdade Cásper Líbero e da estudante do quarto ano de Jornalismo e membro da FFCL, Carolina Serpejante.

Juliana introduziu sua fala comentando aquilo que considera um dos maiores, senão o maior problema das revistas femininas tradicionais: elas são monotemáticas. Abordam sempre os mesmos assuntos que são direcionados ao mesmo público e esquecem a diversidade imensa que há entre as mulheres e também esquecem que as mulheres atuais não são como as de 30 anos atrás, mas ainda escrevem como se fôssemos, ignorando todas as lutas, conquistas e mudanças pelas quais passamos em pouco tempo.

Silvia começou contando como entrou para a revista Gloss: através de uma sugestão de pauta que falasse sobre os - tantos - casos em que mulheres são assassinadas por ex-companheiros que não aceitaram o fim do relacionamento. A editora da revista aprovou a pauta e a chamou para executá-la. Durante os 3 meses em que apurou as informações, descobriu coisas absurdas, como o fato do tema ser sempre abordado como caso isolado, sendo que se juntarmos o máximo de ocorrências que pudermos num curto espaço de tempo, perceberemos que o número é assustador e trata-se de um fenômeno. Notou também que, ao aconselhar uma mulher que estava sendo ameaçada por ex-namorado/marido, dar o telefone da Delegacia da Mulher não bastaria. Inclusive, seria completamente ineficiente e em alguns casos até colocaria a vida dela em risco após a denúncia, como ocorreu com uma das entrevistadas de Silvia. 

Outro agravante é que este tipo de crime é tratado como crime passional, não só pela imprensa, como também pelas pessoas e o pior de tudo é que o termo é aceito, como uma forma de amenizar ou até mesmo justificar um assassinato ou uma agressão com uma paixão descontrolada. Terminou sua primeira fala citando Pondé, numa pequena aspa na revista Época na qual diz que provavelmente mataria sua esposa se soubesse de alguma traição da parte dela, alegando que daria uma boa história de Nelson Rodrigues e que o segredo de uma boa relação é mantê-la sempre forte e nervosa. Ah, Pondé... tão sábio!

Tanto Juliana quanto Silvia enxergam o feminismo como forma de liberdade, e não como opressão. Ambas comentaram as feministas radicais que insistem em desqualificar mulheres que não seguem a mesma linha de feminismo que, na visão delas, é mais uma forma de censurar o que cada uma quer ser.

Silvia comentou que quando trabalhava na Gloss, algumas pessoas usavam o termo “feminista” com a intenção de ofendê-la, sendo que o efeito era totalmente contrário. E falou sobre aquelas que tinham um pensamento feminista, mas não sabiam a respeito disso e que acabaram se encontrando com a ajuda dela. 

Ela também contou o que andou reparando no comportamento das pessoas com relação às mulheres: temos obrigação de sermos infelizes para que sejamos aceitas pela sociedade. Aquela mulher que tem muitos problemas e vive reclamando deles não sofre tantas críticas quanto aquela que é bem resolvida com suas escolhas e não tem a menor vergonha de assumi-las.
O debate ficou ainda mais interessante porque quem foi para assitir, acabou participando e deixando a noite mais rica. Abriu-se um espaço ainda maior de discussão, porque muitas mulheres se sentiram à vontade para dar seus depoimentos sobre o que acham do feminismo, exporem suas dúvidas, refletir a respeito delas e também contar experiências - horrorosas - nas quais o machismo foi extremamente presente em suas vidas. Casos de abuso físico e verbal em lugares como consultório médico, estação/vagão de metrô, sala de aula, entre outros, e o depoimento de uma garota cuja amiga foi vítima de slut-shaming após um estupro sofrido fizeram a ira de quem estava ali ficar pior.

São conversas como essas que fortalecem ainda mais o desejo de luta pelo direito da mulher ser o que quiser. Há quem diga que já conquistamos até demais - os mais ousados dizem que foi tudo. Não é necessário tanto esforço para perceber que esse discurso machista não passa de balela.


+ Vídeos postados no instagram da Lisandra com trechos da palestra:

http://instagram.com/p/e8S23mRIsx/

http://instagram.com/p/e8TpMSxIuN/

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