quinta-feira, 3 de outubro de 2013

BLACK é lindo e está por toda parte

Ser negra não é profissão.

Imagem: Marina Braga

A Frente Feminista Casperiana Lisandra (FFCL) promoveu para a Semana de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero uma debate sobre uma questão silenciosa que pede barulho.  Uma discussão isolada para alguns, porém bastante presente para outros, que aborda sobretudo o retrato da mulher negra na sociedade em que vivemos.

Desta vez, o tema foi acerca da Mulher Negra na Mídia, e como um bom espaço de discussões, o debate ultrapassou o tema pontual e contemplou, com a ajuda das convidadas, outras questões inerentes ao assunto.

Charô Nunes, que escreve para a página Blogueiras Negras, introduziu o tema com o conceito de Black Face. De acordo com a escritora, a imagem do negro sempre foi vítima da potencialização de estereótipos de cada época.  Assim, se na década de 30 o homem e a mulher negra eram animalizados, na década de 70 passaram a representar o malandro e a ‘sexualmente disponível’, assim como nos dias de hoje são representados como subalternos ou serviçais, se forem representados.

A Black Face nada mais é do que a internacionalização do racismo, que vai se consolidar naturalmente por meio da invisibilidade difundida pelas mídias, seja em novelas, noticiários ou programas humorísticos. Os exemplos desses casos se jogam aos nossos olhos quando ligamos a televisão, principalmente no que se refere a programas de humor, que usam essencialmente figuras como o negro, o pobre, a mulher e o homossexual como foco de chacota. Sobre isso Charô deixou bem claro, não se enganem: “O humor que ri do oprimido é o cimento para consolidar o racismo e outros preconceitos”, assim os torna confortáveis aos olhos.

A jornalista Juliana Gonçalves falando sobre o retrato da mulher negra pela mídia, como "o lugar que me colocaram", a projeção do negro pelo branco, o preconceito como forma de silêncio.
 (Imagem: Marina Braga)
Pegando o gancho deixado por Charô, Juliana Gonçalves, jornalista que faz parte da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), evidenciou os estigmas que as mulheres negras carregam, o que é reafirmado e consolidado por sua ‘invisibilidade’. Entre esses estigmas está o desnível no salário e a desvalorização da aparência negra – como cabelo black, que é associado a informalidade.  Diante disso, Juliana afirmou que o silêncio é um “fiel guardião de privilégios dos opressores” e que vigora enquanto o cultivarmos.

Sobre a maneira como a mulher negra é retratada nos veículos de comunicação, Fernanda Alcântara, editora chefe da revista Raça Brasil, denunciou a grande lacuna que existe quando o assunto é essa imagem das mulheres negras, afinal a grande questão é: onde estão estas mulheres? Sem dúvida estão por toda parte, com exceção das capas de revistas. Fernanda falou da exclusão da beleza negra da consagrada ‘beleza padrão’, e o modo como esta é padronizada e vista como uma categoria - “beleza exótica”- enfatizou ainda, assim como as outras convidadas, a sua ausência nos veículos em geral.

O que podemos ver é que o modo como as mulheres negras são representadas pela mídia interfere na imagem e na construção de uma identidade fora dos holofotes, afinal, como assumir uma identidade que é estigmatizada, vitimizada e não representada? Justamente por isso que assumir-se negro é considerado uma posição política. Se assumir negro é, sobretudo, enxergar essas injustiças, ou seja, reafirmar que o racismo EXISTE e a partir disso lutar para que haja mudanças.

Eu, particularmente fiquei satisfeita em ver a sala lotada e os olhos atentos e interessados nas questões discutidas, não apenas por eu ser uma mulher negra, mas também porque acredito que o debate sobre questões que ficam à margem da representatividade não permite apenas dar voz ao silêncio que se instaura envolta destes assuntos, como também denunciar essas discriminações de maneira a cultivar uma mudança, afinal o racismo não é um problema só dos negros.


+ Vídeo postado no instagram da Lisandra com trecho da palestra

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