quinta-feira, 13 de março de 2014

Lesbofobia e Bifobia; o Universo Não Hétero

Foto retirada do site http://jandirainbow.wordpress.com/ / Arte: Camila Araújo
      Na reunião de hoje, contamos com a mediação de uma pessoa de fora do Grupo de Ação da Lisandra: além da integrante Marina Braga, Maria Eugênia Holtz também tomou a frente do debate para discutir a questão da Lesbofobia e da bifobia.
     Presentes em nosso cotidiano, esses preconceitos são explicitados por quebrarem a estrutura social heteronormativa, que parece tão natural aos olhos de quem toma para si certos signos culturais, como o de que é o corpo que serve como premissa para nossas relações sexuais. Isso é, nasceu com um pênis: é menino e sentirá atração por meninas; nasceu com uma vagina: é menina e sentirá atração por meninos.
     Segundo a filósofa Judith Butler, é necessário que essa ordem compulsória se subverta, desmontando a obrigatoriedade entre sexo, gênero e desejo: “o gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente dado (...) tem de designar também o aparato mesmo de produção mediante o qual os próprios sexos são estabelecidos” (trecho retirado da obra de Butler Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade, de 2010 – p. 25).
     Ao longo da reunião, vários apontamentos foram feitos em relação a essas fobias (existentes em função da cultura da heteronormatividade). Sobre o lesbianismo é comum que a gente ouça e leia por aí, que ele só exista porque “essas mulheres ainda não encontraram o ‘macho-alfa’, o ‘pinto-salvador’” ou qualquer outra denominação que coloque o homem como salvador.
     Não! Mulheres não são obrigadas a cultuar símbolos fálicos! E....sim: sexo sem penetração também é sexo.
     Infelizmente, como explicado acima, a aceitação dessas condições por uma sociedade patriarcal é muito difícil. E o maior (e pior) exemplo disso são os “estupros corretivos”: mulheres que se assumem lésbicas podem sofrer com esse tipo de atitude desumana, que explicita a ofensa pessoal de um homem em não ser capaz de satisfazer uma mulher.
     A mídia colabora muito com a lesbofobia. É o desejo do homem que está em jogo. A indústria de revistas (inclusive femininas), por exemplo, compactua por colaborar (e colabora por compactuar) com a cultura heteronormativa, objetificando as mulheres. Assim também acontece com a publicidade, a mídia televisiva e radiofônica.
     Outra indústria que incentiva (e muito) a lógica de que “homens que transam entre si são gays e mulheres que transam entre si são mal-amadas” é a pornográfica. O filme Azul é a Cor Mais Quente é a melhor quebra dessa exposição machista do sexo entre mulheres. Em filmes pornôs, mulheres só estão lá para satisfazer o homem que as assiste, então, em uma nova lógica totalmente nonsense, as atrizes possuem unhas enormes e fazem performances que não condizem com o que realmente acontece entre lésbicas, pois se trata de fetiche. Isso mesmo. Mulher foi feita para dar prazer ao homem, portanto, mesmo quando não transa com o homem, também deve satisfazê-lo). Vide reação de lésbicas ao assistir pornô lésbico (vídeo acima).

     Em relação à bifobia, argumentos sem fundamentos são dados para tentar explicar esse “triste fenômeno que envolve homens e mulheres”. Uma pesquisa do Datafolha em 2009 apontou que mais de 5 milhões de pessoas no Brasil são bissexuais. Essas pessoas vão definitivamente contra o maniqueísmo que a sociedade também defende com unhas e dentes: ou você é hetero ou é gay/lésbica. Essa indecisão não pode existir. É muita promiscuidade. Ou você está claramente apenas passando por uma fase.
     É tão comum ouvir que “quem se declara/assume bissexual está tentando escapar da homofobia!” Uma pessoa bissexual encara muitas dificuldades quando “se descobre”. Acontece que rótulos/definições/nomenclaturas sempre são dadas às pessoas e a confusão na pequena cabeça da sociedade começa quando alguém que é taxado de lésbica passa a ficar com homens também. E a pressão é tamanha, que a própria pessoa se questiona: “estava eu mentindo para mim mesmx?” Não! Não estava! É normal ser capaz de se relacionar com ambos os sexos.
     É normal se relacionar com seres humanos. O pansexualismo também é esquecido nessas horas e recebe as piores falácias, já que “são pessoas que transam com árvores”
     Oi?
     Umx pansexual é atraídx por todos os gêneros, isso é, sua atração sexual vai além dos gêneros “convencionais”: trans* e  genderqueer. Voltamos, então, genitalização das definições.   
     Por fim, o debate voltou as questões ligadas ao filme Azul é a Cor Mais Quente, como as polêmicas cenas de sexo e as interpretações ligadas as sexualidades da Adèle e Emma.

Reunião bombou de novo e o debate foi muito legal! / Foto: Marina Braga


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