quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Práticas machistas dentro da universidade: trote

A foto ficou pequena para tanta gente que se espremeu em uma "roda" para a primeira reunião de 2014!
(Imagem: Marina Braga)

A grande surpresa na primeira reunião de 2014 para a Lisandra foi o número de pessoas presentes em frente ao CAVH para debater sobre o trote e práticas machistas, em geral, nas universidades.
60 estudantes da Cásper, calourxs em sua maioria, apertaram-se em uma roda que agora mal cabia no espaço, mas que antes era mais que suficiente. Mesmo assim, o debate rendeu e era possível ver a vontade de cada umx de estar ali, conversando, trocando opiniões, discutindo da maneira mais saudável.
Quem mediou a reunião foi a Marina Braga, que levou dois textos ( "Machismo na universidade: até quando?" + "Fica o aviso de que trote opressor não é diversão" ) para apontar questões mais polêmicas. Antes de entrar no tema, Marina apresentou a Lisandra e contou um pouquinho de como a Frente funciona: reuniões semanais e mensais, os eventos, o Grupo de Ação etc.
A discussão começou com a polêmica que o trote de 2014 na Cásper gerou e muitas das pessoas presentes concordaram que a violência no evento foi desnecessária. O conceito de que os trotes na Cásper não costumam ser violentos é errôneo, já que não é preciso que haja agressão física, o constrangimento moral é peça-chave para a perpetuação machismo, tanto no âmbito universitário, quanto nas relações sociais em geral.
Acerca da simulação de sexo oral que calouras e calouros (em menor quantidade) foram submetidxs, o concenso geral da reunião foi de que não é fácil dizer que "só fez quem quis".  A falta de força para dizer NÃO vem do fato de que a sociedade reprime cotidianamente mulheres e homossexuais, ou seja, o privilégio dxs veteranxs intimida e remete à opressão que essas pessoas sofrem. 
Aliás, é por isso que a polêmica também abrange o fato de que (principalmente após a divulgação das fotos pela mídia) uma menina ter sido submetida a essa situação, dá margem para QUALQUER mulher ou homossexual se sentirem ofendidxs - independentemente de quem chupou o pepino, tenha se ofendido ou não.
Outra crítica veemente feita durante a reunião foi em relação à linha de pensamento “fizeram comigo ano passado também”. Estudantes de comunicação devem repensar a importância do papel que têm na sociedade. Estamos na Cásper Líbero estudando justamente para aprendermos a questionar e a não  repetir certos atos com justificativas e ideias prontas.
Resultado de um domingo no parque: oficina de
camisetas da Lisandra para fiscalizar machismos no trote
da Cásper. (Imagem: Marina Braga)
Em relação às roupas cortadas, apesar da campanha da Lisandra para que veteranxs perguntassem antes para xs calourxs, se podiam usar a tesoura e qual era o limite, foi notável o desrespeito para com a galera que acabou de entrar na Faculdade. Muitxs na reunião se perguntaram como essas pessoas voltaram para casa, já que algumas estavam seminuas, totalmente expostas. No caso das mulheres, sutiãs e calcinhas estavam parcial ou totalmente expostos. Ainda houve o caso de uma garota que teve suas mãos e pernas cortadas por “acidente”.
Trouxeram para o debate a questão que também foi discutida em redes sociais: muitas mulheres reproduziram comportamentos machistas durante o trote, pois elas também fizeram calourxs simularem sexo oral. Mas…fica a indagação: existe mulher machista?
Poderíamos mudar os termos e pensar sobre o racismo que vem de negros ou a homofobia que vem de homossexuais. A resposta é a mesma (que ajuda a perpetuar e até legitimar os preconceitos): é a tomada para si de uma mentalidade dx opressorx. Talvez por haver vantagens (na vida social, na vida familiar, no trabalho etc), a questão é que: não é possível uma única pessoa exercer os dois papéis, de oprimidx E opressorx. Uma mulher (oprimida) machista (opressora). Um negro (oprimido) racista (opressor). Uma lésbica (oprimida) homofóbica (opressora). E por aí vai.
Não existe mulher machista!
(Imagem: página no Facebook "Moça,
você é machista")
Mulheres machistas não querem ser incomodadas com esse papo-aranha de que o mundo precisa mudar. Tá tudo bem do jeito que tá. Pra que ser uma feminista-gorda-feia-histérica-lésbica-peluda-que-odeia-homem-mas-(misteriosamente)-quer-ser-homem!? Nasci assim, não preciso sair do meu lugar, não é mesmo?
Bem…voltamos à questão de estarmos em uma Faculdade de comunicação, na qual aprender a questionar toda e qualquer mentalidade é o ideal. Seria o ideal. Porque a falta de comunicação (ou da vontade de se comunicar) é visível. Em meio a grande repercussão da notícia sobre o adolescente que foi amarrado à um poste no Rio de Janeiro (fato que ocorreu na semana anterior ao trote), veteranxs de Publicidade e Propaganda também amarraram um calouro à um poste. A alegação foi de que "não sabiam do ocorrido". Futurxs comunicadores que não se atentam aos fatos cotidianos: qualquer pessoa que visse a cena faria imediatamente a associação. 
E por falarmos em “ideal”, o que restou foi a pergunta: "qual seria o 'trote ideal’?”. Uma fala muito importante foi feita logo no finzinho sobre o desperdício de comida que sempre rola nesse ritual de passagem. Disseram que no trote da manhã, mendigos se uniram à “nossa diversão” para aproveitar o resto dos peixes que haviam na porta da Paulista, 900.
Seria realmente muito bom que a reflexão não parasse por aqui e que o amor pela Cásper fizesse crescer mais humanidade dentro dxs respectivxs casperianxs. Em 2015, a Lisandra estará presente e espera que atitudes como as que debatemos, não voltem a acontecer. 


Aqui, alguns (muitos) portais que divulgaram o ocorrido: 










…e a nota oficial da Faculdade Cásper Líbero:

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